Tsechu: um festival de magia

Os Tsechus duram geralmente cinco dias: têm inicio no dia 10 do mês lunar e culminam na Lua Cheia. Geralmente acontecem nos dzongs (fortalezas onde co-habitam o poder administrativo e o espiritual) das principais cidades e vilarejos do país. Todo mês, pelo menos um Tsechu é realizado no Butão. No caso de Paro, como é o principal Tsechu da primavera, atraindo dezenas de milhares de pessoas de várias partes (além de seletos visitantes), o festival é realizado numa esplanada logo acima do dzong.

Como no primeiro e no segundo dia eu ainda não estava em Paro, só passei a entender o que é um Tsechu a partir da terceira jornada. Chegamos cedo e entramos no dzong, ponto de encontro dos dançarinos, monges e autoridades. A construção de sabor medieval, misturado às máscaras ameaçadoras das divindades protetoras transportaram-me, de imediato, a um outro mundo. Um som conclamou a todos a formarem uma ordenada fila. O grupo saiu do dzong e caminhou em direção ao local das danças.

Dançarinas do Tsechu saem do dzong em direção à praça das danças.

Ali, durante seis horas, diferentes bailes celebram a vida de Guru Rimpoche, ou Buda Padmasambava, um iluminado que, a caminho do Tibete, trouxe o budismo da Índia ao Butão no século 8. Segundo os butaneses, as danças com máscaras podem ajudar a aliviar o karma de um indivíduo. O simples fato de assistir um festival faz com que as pessoas ganhem méritos. Por isso, a população de Paro comparece à festa em peso. Todos vieram vestidos com suas mais lindas roupas tradicionais: a kira para a mulher e o gho para o homem. A festa, além de seu aspecto religioso, também é a oportunidade para um encontro de família e entre amigos. Uma cesta de piquenique é um acessório indispensável pois a festa só termina no final da tarde.

As mulheres usam uma kira de seda ou algodão, mas também devem trazer o rachu sobre os ombros. Como o sol estava forte, o rachu acabou servindo para cobrir a cabeça.

O colorido era tão magnético que, durante a primeira hora, eu não sabia para onde olhar e o que fotografar. Tudo ao meu redor chamava a atenção de meus olhos: os dançarinos, os músicos, as construções, os monges, as mulheres elegantes e as crianças sorridentes. A dança mais forte foi a segunda, a das Divindades Aterrorizantes, chamada de Tungam. Seu simbolismo é impetuoso: as divindades mascaradas prendem os maus espíritos e, com uma faca ritual, extinguem esses seres que trazem sofrimento aos seres humanos. O objetivo final é disseminar felicidade.

As divindades, portando máscaras de cinco cores (vermelhas, azuis, verdes, amarelas e brancas), dançaram mais de uma hora. Ora rodopiavam, ora moviam suas cabeças para cima e para baixo. Em outros momentos davam longos passos como se estivessem perseguindo um demônio. Instrumentos musicais, utilizados nos rituais religiosos (como tambores, sinos e cornetas) eram tocados por monges. Precisei parar um instante para me perguntar: como e porque acabei aqui? Não tive resposta imediata , mas sinto que estou começando a ficar embriagado com a cultura butanesa, onde a alegria, as cores e os simbolismos têm mais importância que o banal cotidiano da vida ocidental.

As Divindades Aterrorizantes, vestidas com requintados trajes de seda, dançam para prender os maus espíritos e liberar os seres humanos.

A dança das Divindades Aterrorizantes honram a vida de Padmasambava e simbolizam a vitória da felicidade sobre o sofrimento.

 
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