História

A história do Tibete teve início há cerca de 2.100 anos.

Em 127 a.c. uma dinastia militar fixou-se no vale de Yarlung e passou a comandar a região, perdurando-se esta situação por oito séculos. Por centenas de anos "belicistas" o Tibete investiu sobre terras vizinhas. Este comportamento mudou em 617, quando o imperador Songtsen Gampo - 33º rei do Tibete – começou a transformar a civilização feudo-militar em um império mais pacífico.

Seu reinado durou até 701, e seu legado foi imenso: criou o alfabeto tibetano; escreveu e estabeleceu o sistema legal tibetano (baseado no princípio moral segundo o qual é valorizada a proteção do meio-ambiente e da natureza); favoreceu o livre exercício religioso do budismo, e; construiu vários templos (dentre eles destacam-se o Jokhang e o Ramoche). Seus sucessores continuaram a transformação cultural, custeando traduções e criando instituições. O próximo rei do Tibete foi Tride Tsukden (704 – 754), o qual deixou seu filho como sucessor, o rei Trisong Detsen.

A partir do século VII a região tornou-se o centro do lamaísmo, religião baseada no budismo, transformando o país num poderoso reinado. Antigo objeto de cobiça dos chineses, no século XVII o Tibete é declarado incluído no território soberano da China. A partir daí seguem-se dois séculos de luta do Tibete por independência, conquistada - temporariamente - em 1912. Em 1950 o regime comunista da China ordena a invasão da região, que é anexada como província. A oposição tibetana é derrotada numa revolta armada em 1959. Como conseqüência, o 14° Dalai Lama, Tenzin Gyatso, líder espiritual e político tibetano, retira-se para o norte da Índia, onde instala em Dharamsala um governo de exílio.

Em setembro de 1965, contra a vontade popular de seus habitantes, o país torna-se região autônoma da China. Entre 1987 e 1989 tropas comunistas reprimem com violência qualquer manifestação contrária à sua presença. Há denúncias de violação dos direitos humanos pelos chineses, resultantes de uma política de genocídio cultural.

Tibet O Dharma na Terra das Neves

Desde o tempo do primeiro rei tibetano, Nyatri Tsenpo, a religião predominante no Tibet era o Bön. Durante o reinado de Lha Totori Nyentsen, ocorreram os primeiros contatos com o buddhismo. Seu quinto sucessor foi o rei Songtsen Gampo (tib. Srong btsan sGam po, 617-698), que colaborou com o estabelecimento do buddhismo no seu império e introduziu costumes do Dharma, principalmente a conduta moral. Seu quinto sucessor, o rei Trisong Detsen (tib. Khri srong lDe brtsan, 790-858) convidou vários os mestres Danashila de Singala, Kamalashila da China, Shantarakshita (Khenpo Bodhisattva) de Zahor, Vimalamitra de Kashmir e o Padmasambhava de Uddiyana. O rei patrocinou a tradução de textos buddhistas para o tibetano e, em 779, fundou o primeiro monastério tibetano, Samye (tib. bSam yas), com base na linhagem de ordenação indiana dos Mula-sarvastivadins.

Segundo a história tradicional, Padmasambhava (também conhecido como Guru Rinpoche, Mestre Precioso) subjugou as "divindades e demônios" do Tibet, que se opunham à introdução do buddhismo. Ao invés de abolir as práticas e crenças da religião Bön tibetana, Padmasambhava utilizou-as para difundir o buddhismo. A diversidade das influências é bem simbolizada pelas duas esposas de Songtsen Gampo, ambas buddhistas e cada uma acompanhada por missionários da China e do Nepal. Na época de Trisong Detsen (século VII), as relações entre os representantes das duas tradições eram ásperas, e os argumentos seriam resolvidos por um debate, ou por uma série de debates, no monastério Samye [entre 792 e 794]. O grupo indiano, com uma abordagem gradualista para a iluminação, foi representado por Kamalashila. A tradição chinesa foi representada por um monge chamado Ho Shang Mahayana, que parece ter apresentado uma forma de ensinamento Ch'an [Zen] que conduziria à iluminação súbita através do corte de todas as diferenciações mentais.

Eventualmente, o rei declarou Kamalashila como vitorioso, e a partir de então todos os buddhistas tibetanos deveriam ser praticantes da tradição indiana. Ho Shang foi banido. É provável que a decisão do rei tenha sido, em parte, pragmática, já que o grupo indiano argumentou que a visão de uma iluminação súbita minava a moralidade. Se a iluminação ocorresse repentinamente, sem a preparação do caminho gradual, então a prática da moralidade e das perfeições não teriam sentido. Parece ter havido uma má representação da verdadeira posição de Ho Shang, pois outras fontes indicam que ele advogava a prática das perfeições e da ordenação monástica completa. Porém, é possível que o rei estivesse interessado que a religião tivesse uma influência moralizadora sobre seu povo e, portanto, escolheu a tradição que dava mais ênfase sobre a moralidade. (Andrew Skilton, A Concise History of Buddhism)

Chamar o buddhismo tibetano de lamaísmo é errado porque ele não foi inventado pelos lamas tibetanos. Quando nos deparamos com um ponto importante, sempre citamos um confiável mestre indiano. Este método de autenticação de um ponto ou questão em particular pela citação de textos indianos como autoridade final foi tão amplamente aceito que, em alguns casos, algumas visões são recusadas por não se basearem em nenhum texto indiano autêntico. (Dalai Lama, Amor, verdade, felicidade)

No século IX, o rei Langdarma (tib. gLang dar ma), adepto da religião Bön, perseguiu vigorosamente o buddhismo até ser assassinado por um monge, em 842; isto encerra a primeira fase do buddhismo no Tibet. A segunda fase começa depois da estabilização política no século X e do renascimento gradual do buddhismo a partir do oeste do Tibet. Em 1042, o monge indiano Atisha (980-1055), do monastério Vikramashila, foi convidado a visitar o país. Atisha introduziu grandes mudanças no buddhismo tibetano, tomando como base as fontes monásticas indianas. Seus discípulos fundaram a primeira escola buddhista tibetana, chamada Kadam (tib. bKa' gdams). Após o debate de Samye de 792-794 ter selado a vitória do buddhismo indiano no Tibet, a apostasia de Langdarma, o último rei da dinastia tibetana, deixou o buddhismo institucional destruído com seus monastérios destruídos ou abandonados, e seus monges dispersados ou forçados a se casar.

Após a morte de Langdarma até o final do século IX, o reino quebrou-se em uma multitude de principados que se gastavam em confrontos incessantes, enquanto os sacerdotes bönpos reobtiveram o poder que aparentemente tinha escorregado de suas mãos.Cerca de um século depois, os conflitos terminaram e o Tibet naturalmente voltou-se para a Índia como uma fonte da qual tirou elementos culturais e religiosos para a sua própria renovação. Os senhores de guerra, que falharam em impor qualquer vitória definitiva através de meios militares, agora tentaram basear seu poder temporal sobre uma associação com o poder reemergente das autoridades religiosas, enquanto também davam suporte ativamente às artes, à medicina e à tradução de textos.Esta renascença cultural e religiosa, muitas vezes referida como a segunda propagação do buddhismo no Tibet, constitui um dos períodos mais férteis em sua história. Muito estranhamente, esta renascença apareceu primeiro nos reinos afastados de Guge e Purang no oeste. Os governantes destes reinos distantes, todos buddhistas fervorosos, convidaram mestres indianos das grandes universidades monásticas da Índia a visitar suas cortes.

Atinha, o mais famoso de todos, chegou no Tibet em 1042, e tendo viajado e ensinado extensivamente, faleceu lá em 1054. [...]Em um desenvolvimento paralelo, numerosos tibetanos também cruzaram os Himalaias em sua busca por ensinamentos e textos raros, nas mesmas universidades e aos pés dos mahasiddhas. Deste modo apareceram uma nova geração de grandes tradutores tibetanos, incluindo: Rinchen Zangpo (958-1055) que foi enviado a Kashmir pelos reinos de Guge [e que teria fundado 108 monastérios ao retornar ao Tibet]; Drogmi (992-1072), o grande tradutor tibetano e mestre da tradição do Caminho e Fruto (tib. Lamdre / Lam bras); e Marpa Lotsawa (1012-1096), que pavimentou a base da escola Kagyü.Estes seres excepcionais não hesitaram em se incumbir da longa viagem às baixas planícies da Índia, desbravando perigos, doenças e dificuldades a fim de trazer textos tântricos e ensinamentos anteriormente desconhecidos, que traduziram a partir do sânscrito e transmitiram a discípulos escolhidos.

Este corpo de traduções conhecidas como novas (tib. Sarma / gSar ma) eventualmente trouxe a emergência de novas escolas, junto com a escola baseada nas traduções antigas (tib. Nyingma / rNying ma) da era real. [...]Na ausência de qualquer poder político ou religioso centralizado, comunidades informais desenvolveram-se ao redor destes mestres tibetanos, muitas vezes suportados por ricas famílias. Algumas destas comunidades gradualmente se transformaram em instituições monásticas, por exemplo Radreng (tib. Reting / Rva dreng), fundada em 1056, e o colégio Sakya, estabelecido em 1073. Outros retiveram seu caráter informal, produzindo a conseqüentemente a tradição dos "santos loucos", em descendência direta da tradição indiana dos mahasiddhas. Estes yogis errantes, que permaneciam fora de qualquer estrutura institucional, representam o ideal buddhista tibetano da renúncia e realização, até os dias presentes. Esse era o estilo de vida de Milarepa e seus discípulos e também da pequena comunidade que se reuniu ao redor de Machig Labdrön em Zangri, a Montanha de Cobre. (Jérôme Edou, Machig Labdrön and the Foundations of Chöd) Drogmi (tib. 'Brog mi, 992-1072) levou ao Tibet o Hevajra Tantra (tib. Kye rdo rje gyus / Kyedorje Gyü), o principal texto dos ensinamentos sobre o Caminho e Fruto (tib. Lamdre / Lam bras). Seu discípulo Könchog Gyelpo (tib. dKon mchogs rGyal po, 1034-1102) fundou, em 1073, o monastério Sakya (tib. Sa skya), que se tornaria a sede da escola homônima. Sakya Pandita (1182-1251) converteu mongol Godan Khan em 1247 e tornou-se rei em 1261. Marpa (tib. Mar pa, 1012-1097), fez três viagens à Índia e recebeu os ensinamentos do mestre tântrico Naropa (1016-1100). De volta ao Tibet, Marpa traduziu inúmeros textos para o tibetano. Seu principal discípulo foi o poeta Milarepa (tib. Mi la ras pa, 1040-1123), um dos mais venerados santos tibetanos. O monge Gampopa (tib. sGam po pa), ordenado na escola Kadam, recebeu os ensinamentos tântricos de Milarepa e fundou a escola Kagyü.

No século XII, surgiu formalmente a escola Nyingma (tib. rNying ma), derivada das primeiras linhagens buddhistas introduzidas no Tibet por Padmasambhava e Shantarakshita. Ao contrário das outras escolas, a Nyingma não se envolveu nas questões políticas. A escola Sakya, com apoio dos mongóis, conseguiu uma grande influência política, que depois passaria para a escola Kagyü. No século XIII, Yumo (tib. Yu mo) fundou a escola Jonang (tib. Jo nang), sistematizada por Dölpupa (tib. Dol pu pa). Este escola era baseada na doutrina Tathagatagarbha e foi extinta posteriormente. No século XIV, Putön (tib. Bu ston, 1290-1364) concluiu a compilação do cânone tibetano, o Kangyur Tengyur (tib. bGa' 'gyur bsTan 'gyur). A escola Gelug (tib. dGe lugs) foi fundada pelo monge Tsongkhapa (tib. Tsong kha pa, 1357-1419), reformando a antiga escola Kadam e estabelecendo três novos monastérios (Ganden, Sera e Drepung).

O monge Sönam Gyatso (tib. bSod nams rGya mtsho, 1543-1588) recebeu o título de Dalai Lama (oceano de sabedoria), que continua sendo usado para designar o lama superior da escola Gelug. No século XIX, surgiu o movimento Rime (tib. Ris med), procurando resgatar as fontes buddhistas indianas, superar o sectarismo e estruturar os ensinamentos de forma prática. Entre seus principais representantes, pode-se citar Jamyang Khyentse (tib. 'Jam dbyang mKhyen brtse, 1820-1892), Mip'ham (tib. Mi pham, 1841-1912), Chogyur Dechen Lingpa (tib. mChog gyur bDe chen gLing pa, 1829-1879) e Jamgön Kongtrül (tib. 'Jam mgon Kong sprul, 1811-1899).

De modo geral, as escolas Nyingma e Kagyü tendem a seguir a abordagem de um kusulu ou simples meditador; enquanto isso, as escolas Sakya e Gelug tendem a seguir a abordagem analítica de um pandita ou erudito. Quatro tradições maiores — Nyingma, Kagyü, Sakya e Gelug — emergiram como resultado da disseminação anterior e posterior dos ensinamentos buddhistas no Tibet e também por causa da ênfase colocada pelos grandes mestres do passado sobre diferentes escrituras, diferentes técnicas de meditação e, em alguns casos, diferentes termos usados para expressar experiências específicas. Muitas vezes as pessoas chamam estas diferentes tradições de "chapéus pretos", "chapéus vermelhos", "chapéus amarelos" e coisas assim. Mas se o único critério que tivéssemos para distinguir as tradições fosse a cor do chapéu que elas usam, e já que o Senhor Buddha não costuma usar qualquer chapéu, seríamos obrigados a chamar sua tradição de "sem chapéu"!

O que é comum a todas as quatro tradições maiores do buddhismo tibetano é a sua ênfase sobre a prática de toda a estrutura do caminho buddhista, que compreendem [...] não apenas essência dos ensinamentos do Vajrayana, mas também a das práticas dos bodhisattvas e das práticas básicas do Hinayana. Na Índia, baseadas em diferenças de ponto de vista filosófico, emergiram quatro escolas maiores de pensamento buddhista: Vaibhashika, Sautrantika, Yogachara e Madhyamika. Todas as quatro tradições maiores do buddhismo tibetano, entretanto, mantêm o ponto de vista da escola Madhyamika e, neste ponto, não há diferenças filosóficas fundamentais entre elas. (Dalai Lama, Dzogchen)

Não devemos considerar o buddhismo tibetano superior às outras formas de buddhismo. Na Tailândia, em Burma e no Sri Lanka, os monges têm um verdadeiro compromisso com a prática da disciplina monástica e, ao contrário dos monges tibetanos, eles ainda mantêm o costume de mendigar comida, o qual era praticado há 2.500 anos por Buddha e seus discípulos. Na Tailândia, juntei-me a um grupo de monges em suas rondas. Era um dia quente e ensolarado e, porque a tradição é sair sem sapatos, os meus pés realmente queimavam. Fora isso, foi inspirador ver a prática dos monges tailandeses. (Dalai Lama, O Caminho para a Liberdade)

Por muitos séculos, o Tibet permaneceu isolado e desenvolveu uma forma única de buddhismo, incorporando as filosofias e o monasticismo do Mahayana, os métodos tântricos do Vajrayana e as crenças nativas da religião Bön. Sua presença não se restringe ao Tibet, mas está presente em toda a região do Himalaia, no norte da Índia (Ladakh, Zanskar, Sikkhim), no Butão, no Nepal, na Mongólia, na Ásia Central, na China (Xinghai, Gansu, Yunan e Sichuan) e em repúblicas autônomas do sul da Rússia — especificamente no Cáucaso (Kalmykia) e na Sibéria (Buryatia e Tuva).

Após seus primeiros contatos com o mundo exterior, o forte simbolismo tântrico do buddhismo tibetano fez com que ele fosse considerado uma forma deturpada dos ensinamentos de Buddha. Nas últimas décadas, porém, com o êxodo de seus lamas para outros países, o conhecimento sobre o buddhismo tibetano tem aumentado e os estudiosos passaram a vê-lo de outra forma. No Tibet, os eruditos não esqueceram a prática espiritual e os praticantes não negligenciam o estudo; os sábios uniram o conhecimento à realização. E trata-se, a meu ver, de um excelente procedimento. (Dalai Lama, Como um Relâmpago Rasgando a Noite)

O primeiro pesquisador europeu sobre língua tibetana, o húngaro Csoma de Körös, viajou extensivamente ao Ladakh no início do século XIX antes de produzir seu pioneiro dicionário e resumo de literatura tibetana em 1834. O monge zen-buddhista japonês Ekai Kawaguchi submeteu-se a uma privação extraordinária até, disfarçado de chinês, chegar a Lhasa em 1901, onde a profundidade de seus estudos lingüísticos permitiu que entrasse em uma das grandes universidades monásticas. Ele retornou ao Japão com uma extraordinária coleção de textos. Alexandra David-Neel, a exploradora buddhista francesa, disfarçada como a mãe de seu lama, teve sucesso em chegar a Lhasa no início do século XX, uma época em que outros exploradores frustraram-se em suas tentativas de chegar à capital. Seus registros de primeira mão sobre as yogas psicofísicas dos monges meditadores fascinaram os pesquisadores sobre o Tibet desde então. Poucos tiveram esses contados próximos com os yogis.

E não devemos esquecer Sir Francis Younghunsband, cuja filosofia idiossincrática, prefigurando de modos modos os interesses espirituais contemporâneos, deve muito a experiências pessoais no Tibet.m os pesquisadores sobre o Tibet desde então. Poucos tiveram esses contados próximos com os yogis. E não devemos esquecer Sir Francis Younghunsband, cuja filosofia idiossincrática, prefigurando de modos modos os interesses espirituais contemporâneos, deve muito a experiências pessoais no Tibet. Desde a década de 1930, viajados instruídos nos Himalaias e no Tibet Ocidental fizeram grandes contribuição de modo similar. O erudito alemão Lama Anagarika Govinda, [o italiano] Giuseppi Tucci — o principal intérprete da religião tibetana — e David Snellgrovve — da London School of Oriental and African Studies — escreveram diários de viagem e forneceram registros detalhados e traduções de cerimônias monásticas, textos espirituais e antigas hagiografias. No Ladakh, o pesquisador buddhista britânico Marco Pallis combinou registros de montanhismo com um estudo simpático do buddhismo local.(John Crook, The Yogins of Ladakh)

Em 1949, começou a ocupação chinesa no Tibet. Dez anos depois, um levante tibetano não teve sucesso e o governo comunista consolidou sua invasão. Aproximadamente 1,2 milhão de tibetanos morreram e mais de 6.200 monastérios foram destruídos, restando apenas 13. Cerca 100.000 tibetanos, como o Dalai Lama e vários outros mestres, foram obrigados a se exilar. Até a invasão chinesa de 1950, pensava-se no Tibet basicamente como um Shangri-Lá, a terra mágica de sabedoria milenar e beleza inacessível, onde os estrangeiros raramente tinham permissão para entrar. Um dos primeiros livros sobre este assunto, que foi campeão de vendagem no mundo inteiro, foi o romance de aventuras de James Hilton, Horizonte Perdido, publicado em 1933, sobre um mosteiro no Tibet. A capital do Tibet, Lhassa, o lar do Dalai Lama, a três mil metros de altitude, envolta em mito e protegida pelos picos nevados do Himalaia, foi muitas vezes chamada de "Cidade Proibida". Isolado e fechado, o Tibet não mudava havia séculos, e o progresso tecnológico e a modernização enfrentaram sempre aí forte resistência.

O país nunca passou por uma idade da razão ou de desenvolvimento científico.Existe uma tendência compreensível em romantizar aquele Tibet que existiu antes da violenta invasão chinesa. Entretanto, é um erro pensar que o Tibet era um Shangri-Lá, onde todos eram iluminados, felizes, vegetarianos e não-violentos. Apesar do Tibet provavelmente dispor da "mais sofisticada tecnologia espiritual e da melhor compreensão das ciências interiores", não podemos fingir que era uma sociedade perfeita. Ainda tinha um longo caminho a percorrer. Antes de trazer para o cotidiano aquilo que parecia dominar no mundo espiritual. Na verdade, quando examinamos o Tibet com atenção, através de uma visão racional e humanista, temos que admitir que era uma teocracia medieval, onde a democracia, a alfabetização e os modernos avanços da medicina ainda não haviam chegado.

 O que importa hoje é extrair o ouro do minério do Himalaia — encontrar a essência dos ensinamentos da sabedoria imutável nas encostas pedregosas da cultura asiática, da teologia e da anacrônica cosmologia.Antes da invasão chinesa, uma vida espiritual de devoção e uma vocação monástica eram consideradas uma profissão viável. Um terço da população masculina do Tibet habitava os milhares de mosteiros espalhados pelo país; os mosteiros femininos, repletos de mulheres, também eram numerosos. Até recentemente, as únicas rodas em uso no Tibet eram as rodas de oração, as quais, juntamente com os rosários de contas chamados malas, estavam sempre nas mãos de todos, transformando qualquer atividade, assim como a vida das pessoas, em uma prece contínua.Por volta de 1920, o predecessor do atual Dalai Lama (o presciente Décimo Terceiro Dalai Lama) fez previsões sinistras sobre os planos chineses para conquistar o Tibet e reprimir a prática do buddhismo. Mas os tibetanos, mais preocupados em manter as coisas como estavam do que em evoluir para os tempos modernos, ignoraram as advertências.

Quando as Nações Unidas foram formadas depois da Segunda Guerra Mundial, o Tibet escolheu não fazer parte, e pagou muito caro por esta escolha retrógrada.Em 1950, quando a China entrou no Tibet, alguns lamas, monges e leigos tiveram a boa idéia de fugir do país. Afortunadamente, alguns deles carregaram consigo antigos objetos sagrados e escrituras. A maior parte dos tibetanos, entretanto, ficou lá. Apesar do jovem Dalai Lama temer o pior, por nove longos anos ele ficou em Lhassa, tentando em vão chegar a algum tipo de acordo com o governo chinês.Então, em 1959, a tensão e a insegurança que pairavam sobre a vida dos tibetanos se acumularam, originando uma revolta na província oriental de Kham, que chegou até Lhassa. O Dalai Lama foi alertado quando o governo comunista chinês o convidou para assistir a um espetáculo teatral mas não permitiu que levasse seu guarda-costas nem os assistentes. Preocupados com a segurança de seu líder, milhares de tibetanos cercaram o palácio. Quando a luta começou, o Dalai Lama, vestido como um camponês, saiu do palácio na escuridão e começou a difícil e perigosa jornada, em lombo de burro e a pé, através das montanhas, para fora do Tibet e para o asilo político na Índia. Sem saber que o Dalai Lama havia partido, o exército chinês disparou seus canhões contra o palácio no dia seguinte à sua partida, e milhares de tibetanos civis e desarmados morreram.

Quando os chineses rapidamente tomaram os mosteiros e reprimiram a prática do buddhismo, muitos outros lamas e monges também empreenderam a difícil fuga de sua terra natal. Cerca de cem mil tibetanos conseguiram fugir antes de os chineses fecharem as fronteiras, mas muitos daqueles que iniciaram a jornada desapareceram no Himalaia sem deixar vestígios. Para os que ficaram, a vida tomou-se dura e cruel. Monjas, monges e lamas, além de leigos, foram torturados e assassinados. A Anistia Internacional calcula que cerca de um mi1hão e duzentos mil tibetanos tenham sido mortos pelo exército chinês, e muitos ainda permanecem em campos de prisioneiros no nordeste do Tíbete. Dos irnimeros mosteiros antigos que no passado adornavam o árido platô himalaio, apenas duas dúzias ainda permanecem, deixados de pé pelos chineses apenas para exibição.Os lamas e monges que escaparam precisavam encontrar novos lares. Muitos, como o Dalai Lama, que agora tem sua casa em Dharamsala, na Índia, se estabeleceram em regiões vizinhas ou nos países próximos, como Índia, Nepal, Sikkim, Ladakh e Butão. Outros viajaram para bem longe, terminando na França, na Suíça, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Esses mestres também se lembraram das instruções do Buddha aos primeiros sessenta discípulos iluminados, para continuar a espalhar os ensinamentos:

"Vão para o mundo, oh monges, para o bem de muitos, para a felicidade de muitos, por compaixão do mundo."Com a invasão chinesa do Tibet, foi como se uma represa houvesse arrebentado: de repente a sabedoria tibetana começou a fluir livremente do teto do mundo em direção ao Ocidente. Monges e monjas, lamas e mestres que nunca haviam deixado seus mosteiros de clausura e suas ermidas isoladas tiveram que enfrentar um novo mundo — cheio de homens e mulheres ansiosos para aprender sobre o Dharma. Os mestres tibetanos dizem que se houve um bem emanado da invasão chinesa, este bem foi a disseminação dos ensinamentos para tantos alunos novos. (Lama Surya Das, O Despertar do Buda Interior)

Até hoje, os tibetanos continuam a buscar a liberdade e encontram no Dharma um caminho para superar o sofrimento. Em 1995, 11º Panchen Lama foi seqüestrado pelo governo chinês, e no final de 1999 o 17º Karmapa conseguiu fugir para o exílio na Índia. Apesar de todas restrições impostas pelo governo chinês, cerca de 65% da população tibetana ainda continua a praticar o buddhismo. Felizmente, as quatro principais escolas do buddhismo tibetano (Nyingma, Kagyü, Sakya e Gelug) continuam a existir até os dias de hoje. Naquele ano [1959], os chineses gentilmente nos informaram que era a hora de deixar o Tibet e de nos reunirmos ao mundo exterior. (Lama Thubten Yeshe, citado em Wisdom Energy)

Como resultado da diáspora, pesquisadores ocidentais hoje têm acesso à literatura tibetana, o que nunca seria possível se o Tibet permanecesse isolado. Ainda mais do que isso, a invasão chinesa conduziu a maioria dos grandes sábios e religiosos do Tibet ao exílio, fazendo com que as pessoas interessadas em estudar o buddhismo tibetano possam se encontrar com eles e receber suas explicações orais. Por causa disso, a cultura tibetana tem se difundido pelo mundo e lamas eminentes — mais notavelmente o Dalai Lama — têm conseguido viajar e ensinar o Dharma. [...] Assim, a catástrofe do Tibet teve pelo menos alguns resultados positivos, apesar deste fato não diminuir a tragédia da invasão chinesa nem o sofrimento do povo tibetano. (John Powers, Introduction to Tibetan Buddhism)

Mesmo hoje — apesar do turismo e das abundantes informações fornecidas pela mídia —, parece existir uma imagem do Tibet como uma misteriosa terra das neves, dotada de mágica e misticismo. Obtemos esta compreensão, por exemplo, quando observamos o modo pelo qual elementos da cultura tibetana são usados em propagandas, isto é, em uma área onde a psicologia tem um papel importante.Então o que podemos dizer sobre esta imagem mítica do Tibet? Apesar de ser composta, em parte, por projeções sonhadoras, fantasiosas, ela contém algum cerne de verdade? Se nos preocuparmos com estas perguntas, encontraremos entre outras coisas, a estranha invenção de uma palavra — "lamaísmo" — que, infelizmente, ainda pode ser encontrada aqui e ali na literatura. Há alguns que atribuem falsas habilidades sobrenaturais aos lamas, enquanto há outros que riem com pena dessas noções, considerando-as como produtos das imaginações super-ativas de excêntricos supersticiosos. Para ambos, prevalece um conceito obscuro e vago do que o lama realmente é; assim, é duramente necessário mencionar que o seu entendimento do buddhismo indo-tibetano — separado do qual a cultura tibetana seria inimaginável — é semelhantemente obscuro e incompleto. (Dagyab Rinpoche, Buddhist Symbols in Tibetan Culture)

Apesar de ser rejeitado por muitos chefes de governo ocidentais, preocupados em não perder futuras possibilidades comerciais na China, na década de 80 [S.S. o Dalai Lama] surgiu como figura mundial de grande talha espiritual e como símbolo para muitos dos que lutam em diferentes frentes para mudar o estabelecido: direitos humanos, ecologia etc. Com o Prêmio Nobel da Paz concedido em 1989, a compaixão de Sua Santidade, assim como a sua paciência e sua amorosa bondade para com os opressores de seus país e para aqueles que, com o silêncio, admitem essa opressão, representam um extraordinário tributo ao caminho buddhista e um grande exemplo dos ensinamentos de Buddha. (Alistair Shearer, Buddha)

Podemos distinguir três grandes razões para a expansão do buddhismo [tibetano] no Ocidente: Algumas pessoas, tendo ouvido falar do Tibet e dos tibetanos, formularam uma opinião favorável sobre eles e foram para a Índia, onde puderam encontrar mestres tibetanos. Constatando o benefício que seus ensinamentos proporcionavam, convidaram muitos lamas e tülkus para vir ao Ocidente. Os valores comuns aos cristianismo e ao buddhismo prepararam um terreno favorável: a devoção (por Deus ou pelas Três Jóias), o amor e a compaixão pelos seres, o respeito a uma ética etc. A maioria dos ocidentais estudou muito, o que desenvolveu sua inteligência. Podem compreender, assim, mais facilmente o buddhismo em seus aspectos profundos. (Kalu Rinpoche, Ensinamentos Fundamentais do Budismo Tibetano)




A bandeira nacional do Tibet está intimamente ligada à autêntica história e as linhagens reais do Tibet que tem pelo menos 1000 anos. Durante o período governado por Sua Santidade o XIII Dali Lama, eminente líder espiritual e temporal do Tibet efetivou algumas modificações na política administrativa de acordo com as leis internacionais. Baseada no formato das bandeiras Tibetanas militares anteriores, Sua Santidade melhorou-as e redesenhou a atual e moderna bandeira nacional.

Em uma proclamação oficial, Ele declarou que esta seria a bandeira padrão a ser adotada por todos os estabelecimentos militares de defesa Tibetana. As cores da bandeira nacional nos dá uma indicação clara de todos os aspectos do Tibet em seus simbolismo tais como as características geográficas da religiosa terra das neves do Tibet, os costumes e tradições da sociedade Tibetana, a política administrativa do governo do Tibet, etc. Pelo fato do Tibet ser uma das mais antigas nações do mundo esta bandeira nacional, herdada de nossos ancestrais, é universalmente aceita como um tesouro eaté hoje respeitadas por todos.

O SIMBOLISMO DA BANDEIRA NACIONAL DO TIBET
No centro, uma magnifica montanha coberta de neve que representa a grande nação do Tibet, conhecida como A Terra Rodeada por Montanhas Nevadas. Seis faixas vermelhas se espalham pelo céu azul escuro representado os ancestrais do povo Tibetano: as seis tribos chamadas Se, Mu, Dong, Tong, Dru e Ra que geraram os (doze) descendentes. A combinação das seis faixas vermelhas (para as tribos) e as seis faixas azul escuro para o céu representam a incessante ação dos feitos virtuosos de proteção dos ensinamentos espirituais e a vida secular pelas deidades guardiães protetoras preta e vermelha com as quais o Tibet possui uma conecção já a muito, muito tempo. No topo da montanha nevada, o sol brilha com os seus raios em todas as direções representando a equanimidade de liberdade, alegria espiritual e material e prosperidade para todos os seres da terra do Tibet.

Nas encostas da montanha orgulhosamente parados dois leões das neves resplandescendo com suas jubas de coragem, que representa a conquista vitoriosa do país de uma vida unificada espiritual e secular. Uma linda e radiante jóia de três cores representa a reverência sempre presente mantida respeitosamente pelo povo Tibetano em relação às Três Jóias Supremas ( os objetos de refúgio do Budista: Buda, Dharma(a palavra de Buda) e a Sangha ( a comunidade). A jóia giratória de duas cores mantida entre os dois leões que representa a manutenção e valoração da auto-disciplina do correto comportamento ético do povo, principalmente representada pelas práticas das dez virtudes exaltadas e dos dezeseis modos de conduta humana. E, por último, a barra amarela adornando todo o perímetro representa a disseminação e o florescimento em todas as direções e em todos os tempos dos ensinamentos preciosos e purificados de Buda.
O buddhismo tibetano é notável por ter preservado até o século XX a tradição contínua das universidades monásticas do norte da Índia, uma tradição que, deste 1959, tem sido transplantada para a Índia e para muitos países ocidentais. Para entender a natureza desta tradição, deve-se olhar suas origens no ambiente monástico da dinastia Pala da Índia [760-1142], que forneceu o modelo definitivo para o sistema monástico tibetano. As universidades indianas e suas contrapartes tibetanas enfatizavam uma abordagem sintetizadora do buddhismo, na qual era feita uma tentativa de categorizar e incorporar todas as doutrinas e práticas, reconciliando todas as diferenças em um sistema universal que cobrisse todos os aspectos do Dharma.(Andrew Skilton, A Concise History of Buddhism)

Em agosto de 1993 iniciam-se conversações entre representantes do Dalai Lama, laureado com o prêmio Nobel da Paz em 1989, e os chineses, mas mostram-se infrutíferas. Em maio de 1995 é anunciado pelo Dalai Lama o novo Panchen Lama, Choekyi Nyima, de 6 anos, o segundo na hierarquia religiosa do país. O governo de Pequim reage e afirma ter reconhecido Gyaincain Norbu, também de 6 anos, filho de um membro do Partido Comunista da China, como a verdadeira encarnação da alma do Panchen Lama. Ugyen Tranley, o Karmapa Lama, terceiro mais importante líder budista tibetano, reconhecido tanto pelo governo da China como pelos tibetanos seguidores do Dalai Lama, foge do país em dezembro de 1999 e pede asilo à Índia. A China tenta negociar seu retorno, mas Tranley, de catorze anos, critica a ocupação chinesa no Tibete.


A causa da independência do Tibete ganha força perante a opinião pública ocidental após o massacre de manifestantes pelo exército chinês na praça da Paz Celestial e a concessão do Prêmio Nobel da Paz a Tenzin Gyatso, ambos em 1989. O Dalai Lama passa a ser recebido por chefes de Estado, o que provoca protestos entre os chineses. No início de 1999, o governo chinês lança uma campanha de difusão do ateísmo no Tibete.

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