Atual Dalai Lama defende ser o último a ocupar a posição

A interferência da China nos assuntos religiosos do Tibete poderá provocar o fim da tradição de séculos da escolha do Dalai Lama
O Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, defendeu em uma entrevista à BBC a ideia de ser o último a ocupar a posição.

Lhamo Dondrub, de 79 anos, indicou no programa Newsnight que defendia o fim de uma tradição de séculos em decorrência da interferência chinesa nos assuntos religiosos da sua região autônoma.

De acordo com a tradição do budismo, o Dalai Lama é a própria reencarnação de Buda. A tradição tibetana determina que o sucessor dele seja o Panchen Lama, uma espécie de vice-líder escolhido ainda quando criança.

Porém, Pequim já disse diversas vezes nos últimos anos que escolherá o sucessor de Dondrub.

"Não há garantia de que meu sucessor não será uma pessoa estúpida e que vai cair em desgraça", afirmou o monge budista na entrevista à BBC.

"Isso seria muito triste. Sendo assim, uma tradição de séculos deveria acabar num momento em que ainda é popular."

"A instituição Dalai Lama acabará um dia. Todas as instituições criadas pelo homem um dia acabarão."
Sucessão

Dondrub vive no exílio na Índia desde 1959, para onde fugiu após a anexação chinesa e o fracasso de uma revolta subsequente.

Sua campanha internacional pelos direitos do povo tibetano lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz de 1989, uma decisão que enfureceu o governo chinês.

Naquele mesmo ano, Pequim enfrentou duras críticas internacionais por causa do massacre da Praça da Paz Celestial, em que centenas de manifestantes pró-democracia fora mortos pelo exército.

Nos últimos anos, o Dalai Lama adotou uma postura mais conciliadora em relação à China, trocando a independência do Tibete por autonomia

Em 1995, seguindo o rito de sucessão tibetano, Dondrub escolheu um menino de apenas seis anos de idade, Gedhun Nyima, como Panchen Lama. O menino foi posto contra sua vontade sob custódia das autoridades chinesas, que apontaram seu próprio Panchen.

Para o líder espiritual, diversas grandes nações, incluindo a Grã-Bretanha, adotaram uma postura branda em relação à ocupação do Tibete para não criar atritos com Pequim.

Na semana passada, por exemplo, veio à tona que o papa Francisco 1º recusou uma audiência com o Dalai Lama para não se indispor com a China - o Vaticano trava uma batalha diplomática com Pequim em torno do controle estatal sobre a Igreja Católica no país.

Na entrevista aoNewsnight, concedida em Roma, o Dalai Lama disse que a comunidade internacional precisa encorajar a democratização na China.

"A China quer se incorporar à economia livre e deve ser bem-recebida, mas ao mesmo tempo o mundo livre tem a obrigação moral de trazer a China para a democracia, até para interesse da China", afirmou.

Considerado um separatista por Pequim, o Dalai Lama nos últimos anos adotou uma postura mais conciliadora, pregando a autonomia para o Tibete em vez da independência. Ele até abriu mão de responsabilidades políticas e em 2011 transferiu os poderes para Lobsang Sangay, líder eleito do governo tibetano no exílio.

 
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