Dalai Lama enfrenta tradição e pressão política em busca de sucessor

Vencedor do Nobel da Paz, atual Dalai Lama é inovador.
Ele defende que o cargo seja mais religioso de que de governo. A busca pelo atual Dalai Lama teve início em 1935, quando se diz que a cabeça embalsamada de seu predecessor falecido rolou até parar apontando para o nordeste do Tibete. Então, segue a história, um enorme fungo em formato de estrela cresceu da noite para o dia no lado leste da tumba. Um promissor banco de nuvens se formou, e um regente teve uma visão de letras flutuando num lago místico, que ele interpretou como se referindo à província de Ambo, no nordeste. Lamas elevados saíram a galope e encontraram um menino com dois anos de idade em uma vila distante. Essa criança, eles determinaram após uma série de testes, era a reencarnação do Dalai Lama. Há pouca linearidade na sucessão dos lamas no Tibete. E agora, com o 14º Dalai Lama entrando em seus 74 anos, a questão de como escolher seu sucessor tem preocupado tanto ele quanto seus seguidores - enquanto o Tibete se vê em meio a passagem política ainda mais precária.




Preocupações com o futuro



No fim do ano passado, o governo chinês mais uma vez rejeitou a proposta do Dalai Lama de uma reaproximação que renderia maior autonomia para o Tibete. Nos últimos dias, tropas chinesas invadiram milhares de casas e detiveram pelo menos 81 ativistas antes do 50º aniversário, em março, da revolta fracassada que forçou o Dalai Lama a se exilar na Índia. A China parece inclinada a aumentar o aperto e esperar pelo idoso líder, insistindo, de maneira um pouco improvável para um governo oficialmente ateísta, que tem o direito legal de designar a próxima reencarnação do Dalai Lama.Quando representantes do Tibete se encontraram no último outono em seu parlamentoem Dharamsala, no Himalaia indiano, suas preocupações sobre o futuro ecoaram peloscorredores. Alguns discutiam sobre uma linha militante, insistindo na independência. A maioria considerava o conselho do Dalai Lama, de encontrar um meio termo pacifista. Mas a pergunta sem resposta continua: por quanto tempo mais os tibetanos conseguiram se apoiar em seu carismático e instruído líder espiritual, cuja personalidade é tão entrelaçada ao destino do Tibete? O Dalai Lama falou abertamente sobre sua próxima vida, sua reencarnação, refletindo que ele pode reinventar a prática histórica e cultural e escolher sua reencarnação antesde sua morte, o melhor para salvaguardar seu povo exilado.



Dúvidas



Porém, as dúvidas prosseguem. Poderia uma pessoa, mesmo um budista tão evoluído como o Dalai Lama, escolher sua reencarnação? Alterar a antiga forma de procura pela encarnação do Dalai Lama, na qual sacerdotes buscam presságios, portentos e sinais meteorológicos, não minaria a legitimidade de seu sucessor? Desde que ele fugiu da autoridade chinesa a pé e a cavalo sobre o Himalaia, em 1959, o Dalai Lama viajou incansavelmente e falou apaixonadamente sobre o Tibete. Os frutos de seu trabalho são muitos: o mundo está pontuado de centros tibetanos, e bandeiras de prece tremulam de Delhi a Londres, de Zurique a Todt Hill no distrito de Staten Island, em Nova York. A cultura tibetana é celebrada em Hollywood e nas artes populares. Os exilados são em 130 mil; cerca de 6 milhões de tibetanos vivem no Tibete e na China. No entanto, uma visão mais obscura do futuro tibetano é facilmente prevista. Este Dalai Lama morre e seu sucessor é jovem e inexperiente, sem nenhuma influência nas salas dos poderosos.





Vagarosamente, com relutância, os tibetanos se tornam apenas mais um dos povos semterra do mundo, perdidos à sombra de uma superpotência em ascensão."Definitivamente, quando alguém tão carismático e popular quanto o Dalai Lamafalecer, os tibetanos sofrerão uma queda na atenção exterior", diz Tenzin Tethong, umcolega da Iniciativa de Estudos Tibetanos na Universidade de Stanford. "Perderemosum poderoso símbolo unificador."InovaçãoO Dalai Lama, vencedor do Nobel da Paz, não é nenhum teocrático tradicionalista. Se oseu povo algum dia recuperar o Tibete, ele diz que um parlamento eleito deveriagovernar; o Dalai Lama ocuparia uma posição religiosa. "Ele está pensando de formainovadora sobre o poder do Dalai Lama", diz Robert Thurman, professor de estudosbudistas indo-tibetanos na Universidade de Columbia e autor de "Por que o Dalai LamaImporta". "Ele está tentando colocar nas mentes chinesas que pode ser útil para eles. Aespera deles pela sua morte é completamente despropositada."Budistas tibetanos acreditam em reencarnação, embora não no sentido de uma entidadeirredutível passando de corpo para corpo. Eles descrevem uma vela em seu fimacendendo uma nova; a essência de cada um continua.Geralmente, quando o Dalai Lama morre, a corte real indica um regente, que governaaté que a próxima reencarnação tenha idade suficiente. Ao longo dos séculos, algunsregentes gostaram muito de seu poder e alguns Dalai Lamas faleceram prematuramente,para não dizer suspeitosamente. O sentido da regência como um período de risco aindapersiste.Futuro “eu”É dentro deste contexto que o Dalai Lama especula sobre como conseguir sua próximareencarnação. Talvez as quatro seitas que constituem o Budismo Tibetano possamformar uma versão tibetana do Colégio Católico Romano de Cardeais e escolher umsucessor. Talvez ele volte como uma menina, ou como um não-tibetano.



Ou talvez ele escolha seu futuro "eu".



Thurman oferece seu próprio palpite. O Dalai Lama, diz ele, pode declarar que um jovem lama é a reencarnação de seu próprio regente, há muito falecido. Então, o Dalai Lama poderia morrer e reencarnar como um novo bebê, que seria identificado após o costumeiro estudo de portentos e sinais. "Talvez aquele que ele indique como a reencarnação do regente transfira o título de Dalai Lama de volta para ele, quando a sua próxima reencarnação chegar à maturidade", diz Thurman. Quem poderia contradizer isso? A política pode representar uma ameaça tão grande quanto a metafísica. Os chineses insistem que seu exército libertou os tibetanos da escravidão teocrática e que o Tibete é inseparável da China. Eles não são tímidos ao impingir sua lei. Em 1995, o governo chinês rejeitou a escolha do Dalai Lama de um menino de seis anos como reencarnação do Panchen Lama, um líder espiritual no SECT dominante do Budismo Tibetano, e então indicou outro. A criança escolhida pelo Dalai Lama desapareceu sob custódia chinesa. "O pensamento é um pouco estranho", diz Thurman, "considerando que os comunistas chineses não acreditam em vidas passadas ou futuras e que é ilegal propagar religião na China. "Ainda assim, o poder da China cresce à medida que o Dalai Lama envelhece. Chineses da etnia Han agora amontoaram tibetanos étnicos em Lassa, capital do Tibete, e os exilados estão inquietos, alguns ocupados buscando sinais do que está por vir. Ficar sem um líder transcendental nos dias de hoje é, como D.H. Lawrence escreveu da América Latina sobre os índios brasileiros, arriscar ser consignado "à poeira onde enterramos as raças silenciosas.

Documentário de Dalai Lama "Renaissance" narrado pelo actor Harrison Ford

 
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