![]() |
O Dalai Lama, líder espiritual do Tibete, faz palestra aberta ao público no
Anhembi Foto: Ricardo Matsukawa/Terra |
O líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama, defendeu neste sábado a unidade
entre os seres humanos, apesar das diferenças, e argumentou a favor do laicismo
como forma de cultivar os valores morais, em conferência realizada em São Paulo.
"Laicismo não significa falta de respeito às religiões, mas respeito a todas as
religiões, incluindo os não crentes", afirmou a milhares de pessoas de diversos
locais do país que participaram da conferência no sambódromo do Anhembi.
Tenzin Gyatso, o XIV Dalai lama, afirmou que a experiência comum entre
indivíduos, o bom senso e o progresso tecnológico permitem a promoção dos
princípios humanos. "A ética laica é necessária para a humanidade", disse o
líder espiritual, que foi recebido com um caloroso aplauso e defendeu valores
através do ensino. "O único caminho é a educação, desde a creche até a
universidade".
O Prêmio Nobel da Paz de 1989 criticou o uso da violência, que classificou
como um "método não realista", por não ser efetivo na resolução de conflitos.
Ele defendeu um processo de "desarmamento interno" da raiva e a avareza, entre
outros aspectos, com o objetivo de alcançar o "desarmamento externo". Dalai Lama
comparou a democracia da Índia, país que o acolheu após o fracasso da
insurreição tibetana de 1959, com a falta de liberdades da China. "A democracia
está bem estabelecida na Índia, há completa liberdade de imprensa ao contrário
da China", disse.
De acordo com cálculos da Polícia Federal, cerca de 3 mil pessoas
participaram da conferência, entre elas o prefeito de São Paulo, Gilberto
Kassab, que foi recebido com assobios de protesto pelos cidadãos. Com as
atividades deste sábado, Dalai Lama pôs fim a sua quarta viagem ao Brasil, que
fez parte de um roteiro de visitas a outros países da América Latina.
Este ano, Tenzin Gyatso entregou o poder político do governo tibetano no
exílio a Lobsang Sangay, um jurista que estudou em Harvard e que assumiu o
compromisso de continuar procurando uma maior autonomia do Tibete dentro da
China.
Dalai Lama critica guerras e pede desarmamento "interno"
Em sua quarta passagem pelo País, o 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, líder
espiritual do Tibete, criticou neste sábado as guerras recentes que aconteceram
no Iraque e Afeganistão. "Vemos que a motivação dos EUA era até boa, pois queria
promover a democracia para esses países, porém, o método violento usado foi
equivocado. O ideal do mundo moderno é uma realidade desmilitarizada. O mundo
livre de armas é uma meta", afirmou durante palestra aberta ao público no
Anhembi, zona norte de São Paulo.
O Dalai Lama pediu que o século 21 seja conhecido por seus anos de paz, pois
o século passado deixou um legado ruim. "Foi uma época de violência, em que mais
de 20 milhões de pessoas morreram por causa de guerras. E isso não tornou o
mundo mais pacifico ou mais humano", afirmou.
"Para se alcançar o desarmamento externo é necessário que aconteça um
desarmamento interno, o que significa nos livrarmos da raiva, do ódio e da
violência". Nesse momento, o discurso dele foi, pela primeira vez, interrompido
por aplausos. Dalai Lama também enalteceu os esforços de alguns países para
banir as armas nucleares.
O líder afirmou que a humanidade deve aprender com os erros do passado para
um futuro melhor. "Temos que ponderar novas formas de conduzir o presente e,
consequentemente, o futuro. Os conflitos precisam ser resolvidos com diálogo."
Na segunda parte da palestra, Dalai Lama falou sobre a corrupção, a qual
definiu como "um câncer que assola a sociedade". O líder perguntou ao público
qual era o nível de corrupção no Brasil, ao que a plateia prontamente respondeu
que era grande. Ele então citou como exemplo a Índia que é hoje um pais
democrático, com poder judiciário independente e liberdade de imprensa,
diferente da China. "A Índia tem um governo responsável diante da população. Mas
mesmo assim possui pobreza e corrupção assim como outros países democráticos".
Dalai Lama citou o caso de grandes cidades como São Paulo que contam com
prédios cada vez mais altos. "Muitas vezes, os valores das pessoas entram em
declínio na mesma proporção (que a altura dos prédios) e velocidade e com isso
aumenta-se a diferenças sociais".