Dalai Lama critica reacção ao Nobel da Paz

Líder tibetano defende construção de sociedade aberta para "salvar povo chinês". Mulher do Nobel continua presa em casa.

Quando na sexta-feira o vencedor do Nobel da Paz deste ano foi anunciado, as emissões de canais internacionais como a CNN ou a BBC foram interrompidas na China. Por alguns momentos, os ecrãs de televisão de milhões de cidadãos chineses ficaram negros.

A atitude de Pequim - que tem censurado quase todas as referências à atribuição do prémio ao dissidente Liu Xiaobo - foi ontem criticada pelo Dalai Lama. O líder espiritual tibetano afirmou que o Governo chinês "não aprecia, de todo, qualquer opinião diferente."

Em declarações à agência japosena Kyodo, o Nobel da Paz de 1989 acusou "certos defensores de uma linha dura" de estarem presos a uma forma de pensar "retrógrada". Para o Dalai Lama, a construção de uma sociedade aberta é "a única maneira de salvar todo o povo da China".

O líder tibetano felicitou na sexta-feira Liu Xiaobo, o primeiro cidadão chinês a receber o galardão da Paz. O Dalai Lama vê a decisão do Comité Nobel norueguês como o "reconhecimento internacional das vozes crescentes do povo chinês" que exigem "reformas políticas, jurídicas e constitucionais".

Em desacordo está o Governo chinês, que considerou a atribuição do prémio a Liu - condenado no ano passado a 11 anos de prisão por actividades "subversivas" - uma "obscenidade". Na imprensa estatal lia-se ontem que a distinção do antigo professor de literatura russa mostra "um terror extraordinário pelo crescimento da China e do modelo chinês".

Segundo a TV norueguesa NRK, a China cancelou ontem um encontro ministerial marcado para hoje entre responsáveis chineses e noruegueses sobre pescas. Uma decisão que é vista como reacção à atribuição do prémio.

Televisões, rádios, jornais, internet e telemóveis têm sido alvo da máquina de censura gerida pelo Departamento de Propaganda chinês. Todas as mensagens escritas que contêm o nome de Liu Xiaobo estão a ser bloqueadas.

Os tentáculos do Governo chegam ainda ao Twitter, onde contas de opositores ao regime têm sido apagadas. Ainda assim, a mulher de Liu Xiaobo, detida em casa após a sua visita de domingo ao marido na prisão, conseguiu enviar mensagens através desta rede de micro-blogging. Liu Xia disse que estava em prisão domiciliária e que o marido soube da atribuição do prémio dois dias depois do anúncio. A Amnistia Internacional já pediu às autoridades chinesas que revelem se Liu Xia "continua a ser uma cidadã livre".

 
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