
A maturidade veio cedo para o jovem Michel. Teve sua primeira aproximação com o budismo aos 5 anos e aos 12, por decisão própria, tornou-se monge, indo viver em um mosteiro no Sul da Índia. Rebatizado, Jangchub Choepel Lobsang Nyentrag - o lama Michel - mudou sua base em 2004 para a Itália e hoje, aos 28 anos, corre o mundo dando palestras. Em São Paulo, preside a Fundação Lama Gangchen Para a Cultura de Paz. E é dessa pequena sede, de apenas duas salas, onde ele aterrissa uma vez por ano, que brota seu grande sonho de transmitir experiência. “Iluminação não é como acender a luz. É um processo lento e gradual.” A seguir, trechos da sua conversa com a coluna:
Como foi para uma criança de oito anos entender a reencarnação? Desde pequeno o conceito de reencarnação fez sentido para mim. Na primeira vez em que entrei em um cemitério, para visitar o túmulo do meu bisavô, o silêncio do lugar me encantou. Estava com minha mãe e disse a ela: “Hoje a gente está aqui olhando pro vovô. Amanhã a gente vai estar lá e ele aqui olhando para a gente.
De que maneira encara o futuro? Nunca me achei nada de muito especial e continuo não me achando. Mas é fato que eu tive uma bela oportunidade. De poder aprender os ensinamentos, de ir na direção de uma tradição que está se perdendo, de ter contato com o budismo que veio do Tibete. Meu objetivo é praticar, compreender e passar os ensinamentos. Se puder continuar a minha vida nessa direção, está ótimo!
Qual a diferença entre dharma e carma? O dharma quer dizer muitas coisas: resistência aos fenômenos, ensinamentos, caminho espiritual. Os ensinamentos de Buda são chamados de dharma. Carma é ação - é a lei de causa e efeito. Qualquer ação que eu praticar é carma. Somos responsáveis pelas consequências de qualquer palavra que dissermos, qualquer pensamento ou decisão. Cedo ou tarde colhemos o resultado.
Os empresários, com a crise, estão procurando mais o budismo? De uma forma geral não, por algumas razões. A mais importante é que a grande maioria das pessoas está lidando só com o sintoma da crise e não com o problema, a doença em si. Esse momento só vai ser de transformação se a pessoa parar de procurar apenas o seu benefício e olhar para o todo.
Você se acha otimista ou pessimista com o mundo? De uma forma geral tenho um olhar pessimista, mas sou otimista em relação ao indivíduo. Acredito no poder e na capacidade de transformação de cada um de nós.
Você toma partido no conflito China-Tibete? Acho esse problema é muito mais complexo do que parece. O Dalai Lama quer uma direção, da autonomia para o Tibete. A China responde: se quiser a autonomia que nós demos, venha. Acontece que no meio estão os EUA. É uma história da qual prefiro ficar fora: não gosto de política. Mas acho importante a gente ter a consciência e saber distinguir entre política, religião e cultura. São aspectos diferentes que muitas vezes se misturam.