
De aspecto frágil e carácter enérgico, o dissidente chinês Hu Jia, a quem foi atribuído hoje o prémio Sakharov 2008, atraiu a cólera de Pequim ao envolver-se na defesa dos doentes de Sida, ambiente e liberdade de expressão. Nascido a 25 de Julho de 1973, Hu Jia pertence a uma família que teve problemas com o regime comunista a partir os anos 50. Os seus pais, então estudantes na universidade, são vítimas da campanha "anti-direitista" de 1957, lançada por Mao Tsé-Tung contra os intelectuais depois de os ter incitado a criticar o Partido Comunista durante o "Movimento das Cem Flores". Dois anos antes, o seu tio paterno, acusado de ser um "contra-revolucionário", tinha sido condenado a 25 anos de trabalhos forçados. Adolescente, Hu Jia assistiu às manifestações pela democracia de Tiananmen, violentamente reprimidas na madrugada de 04 de Junho de 1989. Face à violência, explicou em entrevistas, ele tornou-se budista, defendendo a não violência e manifestando a sua admiração pelo Dalai Lama, uma figura detestada pelo regime de Pequim. "É um budista que não mataria uma formiga, um vegetariano que gosta de proteger o ambiente e defende a vida, um altruísta que se compromete para trazer justiça às pessoas. Ele não é prejudicial para a sociedade, ao contrário dá a sua contribuição de maneira nobre", escreveu a sua mulher sobre ele. Com os seus óculos e a sua magreza, acentuada ultimamente com uma cirrose, Hu Jia é um homem do qual emana uma certa fragilidade, mas que mostra a firmeza dos seus compromissos face ao regime comunista. A partir de meados dos anos 90, o seu combate passa por um envolvimento em organizações não governamentais, primeiro para a defesa do ambiente, contra a desertificação e pela defesa de espécies em perigo como os antílopes tibetanos. Além disso trabalhou com as vítimas do vírus da Sida, em particular os camponeses de Henan (centro) infectados depois de terem vendido o seu sangue, o que lhe valeu uma primeira detenção pela polícia desta província em 2002. No seu

combate - ao lado da sua mulher Zeng Jinyan, que encontra quando ela era voluntária da Cruz Vermelha - utiliza as novas tecnologias, como a Internet e o telemóvel, não deixando de manter informados os jornalistas estrangeiros da situação dos outros dissidentes. "A China sempre foi uma ditadura", explicou Hu Jia, numa entrevista à agência noticiosa francesa AFP em 2007. "Agora existe uma possibilidade de trazer a democracia a este país pela primeira vez em cinco mil anos de história. É por isso que me sinto privilegiado de viver neste tempo e isso explica o que faço", acrescentou. Desde Abril de 2004, Hu Jia tem sido privado da liberdade de diferentes modos, por exemplo sendo colocado em prisão domiciliária no seu apartamento numa residência no leste de Pequim com o irónico nome de "Bobo Cidade Liberdade". Foi detido antes dos Jogos Olímpicos de Pequim em Agosto e depois, no final de um processo em Abril, condenado a três anos e meio de prisão por tentativa de subversão pelas suas declarações divulgadas na Internet e entrevistas dadas à imprensa estrangeira. Preso em Tianjin, a duas horas de carro a sudeste de Pequim, ele continua o seu combate junto dos outros prisioneiros, segundo a mulher. "Ele não deixará cair a questão dos direitos humanos, o que complica as coisas para os responsáveis e empregados da prisão", afirmou recentemente Zeng no seu blog. Em Novembro de 2007, Zeng Jinyan teve a sua filha, Qianci. "Efectivamente a mais jovem presa política do mundo", segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).